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No dia 26 de maio, Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, várias entidades nacionais se mobilizam para conscientizar a população sobre os cuidados que devem ser tomados para o combate ao glaucoma, lembrando que, quando não diagnosticado precocemente, pode produzir danos severos ao nervo óptico e levando à perda da visão.


É importante salientar que o glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo, acometendo cerca de 4% da população acima dos 40 anos de idade. De evolução sorrateira, não costuma dar sinais de sua presença, salvo em raras situações onde seus portadores podem se queixar de discreta cefaléia na região dos supercílios, que muitos podem confundir com enxaqueca, sensação de olhos pesados ou percepção de halos coloridos em torno de luzes. É mais comum entre as pessoas da raça negra, portadores de alta miopia, diabéticos, nas famílias onde há história de glaucoma entre seus membros. A natureza hereditária da doença impõe um check-up ocular já na adolescência.

Sob o rótulo de glaucoma existem basicamente dois quadros clássicos: o glaucoma crônico simples ou de ângulo aberto, que é o mais comum, e o glaucoma de ângulo fechado. O primeiro quadro é representado por uma doença que pode evoluir durante anos e só o exame da pressão intraocular (PIO) vai permitir sua detecção. O segundo é conseqüência de um estreitamento de uma região anatômica ocular que, em condições especiais como estresse, emoção muito forte, uso tópico ou sistêmico de atropina, ou simplesmente pelo fato de seus portadores ficarem em ambientes de absoluta escuridão, bloqueia totalmente a saída do humor aquoso, líquido especial que nutre diversos elementos anatômicos intraoculares. Se isto vier a ocorrer, a PIO, que normalmente varia entre 10 a 20 milímetros de mercúrio (mmHg), poderá chegar rapidamente a 60 mmHg ou mais. Na crise de glaucoma agudo o olho fica muito vermelho, dor intensa, visão embaçada, com o paciente apresentando enjôos e vômitos. Estas últimas manifestações podem até confundir o diagnóstico, levando-se a pensar em crise de vesícula ou de rins. O atendimento deve ser feito em caráter de máxima urgência, buscando reverter o quadro antes que o nervo óptico seja irremediavelmente lesado.

Já no glaucoma crônico, se a doença não for detectada a tempo, o paciente perderá campo visual gradativamente começando pela periferia e finalmente o próprio campo central, acompanhado de alterações na cabeça do nervo óptico. Alguns pacientes só se dão conta de que algo está errado com a sua visão quando começam a esbarrar em pessoas ou objetos ao seu lado ou, ao manejarem um veículo, não percebem a presença de obstáculos laterais.

Existem outras formas de glaucoma, como o congênito; o de origem medicamentosa, principalmente com o uso prolongado de colírios ou spray nasal a base de corticóide; os decorrentes de processos inflamatórios intraoculares; traumas oculares; tromboses retinianas; pós cirurgias de catarata, cada um exigindo uma conduta apropriada.

No controle da doença, é fundamental o exame de fundo de olho, com máxima atenção para as condições da cabeça do nervo óptico e a realização de campos visuais com certa periodicidade. A tonometria de Goldman (aparelho que mede a PIO) tem sido o padrão-ouro para o controle do glaucoma mas hoje sabemos que isto não é o bastante em certas situações. Por exemplo, se a espessura da córnea estiver fora dos limites normais ela irá influir na interpretação da leitura pressórica. Dependendo de cada caso estarão indicados exames de curva tensional diária, prova de sobrecarga hídrica, avaliação da camada de fibras nervosas, fotos esteroscópicas e outros.

Como a elevação da PIO é conseqüência de um aumento exagerado do humor aquoso no interior do olho, o tratamento consiste no uso de colírios que possam reduzir a sua quantidade.


Hoje dispomos de uma infinidade de drogas para ajudar neste permanente controle e que, na maioria das vezes, serão usadas por toda a vida do paciente.

Vários destes medicamentos podem apresentar efeitos colaterais de várias magnitudes, e o oftalmologista tem que conhecer o estado geral de seus pacientes e receber deles todas as informações necessárias para rastrear possíveis efeitos adversos.

Quando a terapia clínica não for suficiente para controlar a doença, o oftalmologista poderá indicar uma cirurgia a laser, ou pela técnica da trabeculectomia , com ou sem o uso de antimetabolitos, e em casos mais rebeldes, com implantes de drenagem ou até por procedimentos ciclodestrutivos. Estas alternativas não são totalmente livres de riscos e têm que ser bem dimensionadas, buscando a melhor solução para o paciente.

O pavor de ser portador de glaucoma não condiz com os recursos hoje disponíveis para o seu efetivo controle. O oftalmologista, como guardião de um dos sentidos mais preciosos do ser humano, reúne hoje um excelente arsenal para rastrear a presença desta doença e tratá-la, alertando os pacientes para a importância da fidelidade ao tratamento.


Dr. Miguel Padilha
Dr. Miguel Padilha
Membro Titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia