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Fundo de olho: qual sua importância?

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Muitos ainda estranham os fundamentos para se fazer um exame de fundo de olho. Perguntam sempre se é necessário dilatar a pupila .... se dói .... se a luz é muito intensa?


Ó bvio .... questões pertinentes, mas para as quais as respostas são simples: nem sempre é necessário dilatar a pupila; não dói; a luz pouco ou nada incomoda.

Mas o exame é muito importante pois permite ao oftalmologista acessar diretamente a retina, estrutura intraocular responsável pela captura de luz e, através de impulsos elétricos, transmiti-los ao cérebro onde se processam as imagens de todo o mundo externo.

 
 

Nesta foto, identificamos à direita, um círculo amarelado, que vem a ser o nervo óptico; dele saem as artérias (vasos menos calibrosos) e para ele convergem as veias (vasos mais calibrosos). E à esquerda, ligeiramente mais escuro, é a região conhecida como mácula e responsável pela visão central.

Nesta película, de acesso direto através do aparelho conhecido como oftalmoscópio, direto ou indireto, ou por modernos retinógrafos, podemos interpretar variações do tecido retiniano, dos vasos (calibre, trajeto, cruzamentos, brilho), da coloração e forma da cabeça do nervo óptico além de presença de hemorragias e muitos outros achados que possibilitam não só o diagnóstico mas acompanhar a evolução de mais de 100 doenças.

 

Oftalmoscópio direto e indireto e retinógrafo

 

Isto mesmo! Mais de 100 patologias, incluindo efeitos tóxicos de certas drogas para o organismo (glaucoma, tumor intracraniano, diabetes, metástases de tumores de mama, de pulmão, doenças imunológicas, danos eventualmente provocados pelo uso de hidroxicloroquina, etc) podem ser detectadas através deste exame.

 


Leitura recomendada: Exame de fundo de olho
 

Sem desejar cansar com tantas imagens, vamos apenas observar algumas delas através de um exame de fundo de olho. Basta clicar e visualizar o que o oftalmologista descobre nestas observações:

 

Foto 1. À esquerda, o círculo ligeiramente amarelado é a cabeça do nervo óptico. Um pouco mais a direita e ligeiramente mais avermelhada, se situa a mácula, região extremamente importante para a visão central. Esta é uma imagem padrão de um fundo de olho normal.

 
 

Foto 2. O que chama atenção neste fundo de olho é a discreta alteração da cabeça do nervo óptico, sugerindo ser um início de glaucoma.

 
 

Foto 3. O nervo óptico já apresenta uma alteração mais acentuada que no exame anterior e já mostra um glaucoma mais avançado.

 
 

Foto 4. Dá para se observar uma grave coroidose, ou seja um afinamento do tecido retiniano, permitindo ver a camada mediana do olho conhecido como coróide.

 
 

Foto 5. Coroidose miópica em olho direito, no mesmo paciente anterior, e que pode trazer acentuada baixa de visão.

 
 

Foto 6. Observe uma cicatriz atrófica de toxoplasmose (ou corioretinite atrófica). Infelizmente este tipo de infecção costuma comprometer severamente a área macular, levando a uma perda da visão central. Muitos pacientes não conseguem identificar que estão com este comprometimento quando acontece em um dos olhos. O olho contralateral, se não estiver comprometido pela doença, pode mascarar a baixa de visão do olho acometido.

 
 

Foto 7. Degeneração miópica grave. Este quadro acontece em pessoas portadoras de alta miopia (acima de 10 dioptrias). Em alguns casos, apesar da grande superfície acometida, parte da mácula pode ficar ilesa de tal comprometimento, permitindo ao seu portador gozar de uma boa visão central.

 
 

Foto 8. Degeneração miópica no mesmo paciente, no olho contralateral. Este quadro também pode sugerir uma degeneração macular relacionada à idade.

 
 

Foto 9. Em casos de hipertensão arterial, hipercolesterolemia, ou outras doenças cardiovasculares pode ocorrer uma trombose de ramo da veia central da retina, produzindo hemorragias em diversas áreas desta estrutura. Quando ela ocorre em região periférica, pode nem ser percebida pelo portador.

 
 

Foto 10. Outro caso de trombose, mas aqui acometendo a área macular e provocando baixa de acuidade visual. Se o diagnóstico e tratamento forem de imediato estabelecidos, pode haver uma boa reversão do quadro. Nesta situação o paciente nota logo uma acentuada perda de visão e deve procurar de imediato o oftalmologista.

 
 

Foto 11. Oclusão de ramo da artéria central da retina. Um ponto amarelo (de placa de ateroma) pode obstruir o vaso e provocar danos a visão.

 
 

Foto 12. Neste exame, a esquerda e no alto, dá para se ver um derrame, evidenciando juntamente com outros achados, como presença de microaneurismas, tratar-se de retinopatia diabética.

 
 

Foto 13. Neste desenho esquemático, a presença de múltiplas hemorragias e edema da cabeça do nervo óptico, caracteriza durante a gravidez, tratar-se de um caso de eclâmpsia. É uma situação grave que impõe ações imediatas pelo obstetra e cardiologista.

 
 

Foto 14. Descolamento de retina recente. Paciente percebe alterações visuais, como flashes, moscas volantes, e, por fim a sensação de um escurecimento na visão. Quanto mais precocemente for tratado, melhores as chances de recuperar a visão.

 
 

Foto 15. Também um descolamento de retina, mas provavelmente de longa duração. Quanto mais tardiamente o diagnóstico for feito, piores as chances de uma cirurgia redundar em sucesso. O prognóstico costuma ser ruim.

 
 

Foto 16. As alterações observadas na cabeça do nervo óptico (borramento dos seus bordos e edema nesta estrutura) e mais hemorragias difusas levam ao diagnóstico de um pseudotumor ou tumor intracraniano. Tratamento de emergência para impedir a neuropatia isquêmica e atrofia do nervo, bem como tratar de imediato tal tumor.

 
 

Como se pode verificar, o tema é longo e abrange inúmeras interpretações clinicas do corpo humano através de um exame feito por um aparelho (oftalmoscópio) inventado em 1850 pelo matemático, médico, físico alemão Hermann Ludwig F. von Helmholtz (1821 – 1894) e com o nome original de “Augenstegel”. Desde então este dispositivo foi se aperfeiçoando cada vez mais graças a introdução de diversas tecnologias sofisticadas, incluindo o uso de contrastes (fluoresceína e indocianina verde, usadas em situações muito especiais).

Graças a Helmholtz, a oftalmologia passou a desvendar muitos mistérios que a natureza esconde dentro dos olhos!

 

Agradecimentos especiais ao designer Tiago Francisco A. Pereira e ao webdesigner Rodrigo da Costa, que permitiram ao Autor concretizar a idéia desta apresentação em primeira mão na oftalmologia mundial.

Todos os direitos (Direito Intelectual) protegidos por Copyright 2021.

Fotos: Shutterstock, Nidek do Brasil, Macrosul, Medicalexpo e arquivo pessoal

 


Dr. Miguel Padilha
Dr. Miguel Padilha
Membro Titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia