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e acordo com a Academia Americana de Oftalmologia, dos Estados Unidos, é o que sugerem três novos estudos publicados em revistas científicas importantes.O Observatório da Saúde conversou com o oftalmologista Dr. Miguel Padilha, membro titular e da Comissão de Ética do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e membro Emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), a fim de obter mais informações sobre o assunto. Segundo ele, o aparecimento de conjuntivite acontece em quadros graves.
“A Academia Americana de Oftalmologia chama a atenção para os primeiros trabalhos científicos publicados em revistas como Journal of Virology, o New England Journal of Medicine e o Jama Ophthalmology, relatando manifestações de conjuntivite, incluindo presença de vírus na secreção ocular. Entretanto, paradoxalmente, em uma pesquisa conduzida pelo Dr. Rupesh Agarwal, do National Center of Infectious Disease, de Singapura, não foram encontradas quaisquer evidências de disseminação do vírus a partir das lágrimas em pacientes positivos para o Covid-19, em diferentes momentos do curso de evolução da doença numa amostragem realizada em seu hospital.
Mas é o próprio Dr. Agarwal que salienta que o vírus foi detectado em swabs de orofaringe e, portanto, mais estudos se tornam necessários para estabelecer corretamente se as lágrimas podem ou não ser potenciais fontes de transmissão da doença”, informou o especialista.
Já em relação a possível contaminação pelos olhos, Dr. Miguel Padilha explicou que é bem provável que o vírus, atingindo os olhos, possa descer pelo canal lacrimonasal e chegar à traqueia. “É uma hipótese que não pode ser descartada. Para os profissionais de assistência médica, em atendimento a casos graves, é altamente aconselhável o uso de óculos protetores e máscaras, diria mesmo obrigatório. Usar máscaras em tempo integral para a maior parte das atividades domésticas é um ponto controverso. Como existem casos assintomáticos, pessoalmente, sou a favor de uso de máscaras a maior parte do tempo quando houver pessoas idosas convivendo em uma casa. Em lugares públicos, as autoridades sanitárias recomendam uma distância mínima de 1,50 m entre as pessoas e uso de máscaras”, declarou.
A conjuntivite, descrita até o momento nos casos mais graves, se manifesta com o olho vermelho com edema da conjuntiva. Essa é a mucosa que reveste o “branco do olho”. Se a conjuntiva sofrer algum tipo de agressão, ocorre a dilatação dos vasos, acompanhado de prurido ocular e aumento do lacrimejamento. Como citado nos artigos, uma secreção ocular também pode aparecer em algum momento.
Dr. Miguel Padilha ressaltou que é importante que as mãos estejam sempre limpas, bem lavadas com água morna se possível, e com sabão. Somente com as mãos bem limpas se deve tocar nos olhos, nariz ou boca. Os cuidados devem ser estendidos para os óculos. “Procure lavá-los diariamente e, com papel delicado, enxugá-los. Se for portador de lentes de contato o ideal seria evitar seu uso exatamente para reduzir as manipulações oculares”, concluiu. O especialista recomendou que, em caso de coceira excessiva ou olhos vermelhos, deve-se procurar um oftalmologista para averiguar se é, de fato, uma conjuntivite ou outra doença ocular. A conjuntivite pode se manifestar por várias causas como de origem alérgica, traumática, por ação de raios UV, bacteriana, viral.
Portanto não há razão para entrar em pânico simplesmente porque apareceu um quadro de conjuntivite e, de imediato, imaginar que seja pelo COVID 19.
Segundo o oftalmologista, é difícil prever se inflamações oculares podem ser evitadas nos casos de Covid-19. “Estamos numa fase em que ainda não conhecemos completamente o comportamento do vírus. É impressionante como, em três meses, o novo coronavírus despertou uma quantidade enorme de pesquisas, em vários centros médicos em todo o planeta, para reconhecer muitas de suas maneiras de agir e enfrentá-lo. Neste momento, a única coisa a ser feita é seguir todas as recomendações das autoridades sanitárias”, comentou.
Dr. Miguel Padilha ainda reiterou que, como ocorre em toda doença contagiosa, os hábitos de higiene devem ser redobrados. “Assim, toalhas, roupas de cama, talheres e copos, colírios, óculos, telefones fixos ou celulares, também não devem ser compartilhados. Sempre use álcool a 70% para limpar as superfícies de mesas e bancadas onde os objetos se encontram, bem como os mesmos devem ser adequadamente limpos e enxugados”, finalizou.
*Sob a supervisão de Juliana Temporal
Publicado originalmente em Observatório da Saúde (Rio de Janeiro)