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Olho seco: uma nova síndrome?

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De acordo com vários estudos publicados recentemente, o número de pessoas apresentando um quadro ocular denominado "olho seco" está aumentando cada vez mais entre nós. Só nos Estados Unidos, 20% dos pacientes que procuram o oftalmologista são portadores desta doença.


V árias são as razões que explicam o aumento destes casos no país, a começar pela longevidade da população brasileira, que segundo o IBGE já ultrapassa 13.000.000 de pessoas com mais de 60 anos de idade, devendo dobrar nos próximos 20 anos. Com a idade, começam a ocorrer defeitos no delicado mecanismo responsável pela lubrificação ocular, com muitos indivíduos apresentando alterações na película lacrimal e, em decorrência, desenvolvendo lesões na córnea.

Os portadores de "olho seco" se queixam de sensação de areia nos olhos, secura ocular, desconforto à luz (fotofobia), podendo apresentar baixa de visão e intolerância ao uso de lentes de contato, e em casos extremos, ceratoconjuntivites graves, que podem eventualmente, até terminar com úlceras de córnea.

Nos casos de pacientes usuários de lentes de contato, torna-se imperioso o uso constante de colírios lubrificantes ou de soro fisiológico para compatibilizar a presença delas em contato com a córnea. Em situações especiais a lente de contato poderá estar formalmente contra-indicada e a insistência em tentar usá-las poderá acarretar sérios danos aos olhos.

Outros fatores contribuem para o aparecimento destes quadros, valendo lembrar a utilização cada vez mais freqüente do computador (conhecida hoje como síndrome de olho seco pelo computador), o número maior de pessoas se submetendo à cirurgia estética facial, além de uso indiscriminado de medicamentos que podem levar ao aparecimento de "olho seco", destacando-se, entre eles, os antidepressivos, antiarrítmicos, antihipertensivos, anti-parkinsonianos, anticoncepcionais.

Uma constatação mais recente tem sido a presença de ceratites em pacientes submetidos à correção cirúrgica de miopia e outros vícios de refração em cirurgia de laser. Em pacientes que tenham uma predisposição para "olho seco", é possível já nos primeiros dias de pós operatório que eles sintam um desconforto nos olhos e até uma certa redução na qualidade visual. Felizmente, com o uso de colírios adequados os especialistas notam que após algumas semanas de tratamento, tais sinais e sintomas tendem a desaparecer completamente.

Outra constatação se refere a alta incidência deste quadro entre as mulheres, muito maior do que entre os homens, e principalmente quando elas entram no período da menopausa. Isto conduz ao raciocínio de que, muito provavelmente, fatores hormonais seriam responsáveis pela diminuição de formação da lágrima, como a redução de androgêneo resultando em uma maior resposta inflamatória na glândula lacrimal. Neste momento estão sendo investigados alguns colírios à base deste hormônio para se conhecer melhor seus resultados e efeitos colaterais, principalmente visando a diminuição dos efeitos virilizantes.

Outros estudos, conduzidos nos Estados Unidos sob a supervisão do Food and Drug Administration (FDA), têm demonstrado que drogas do tipo ciclosporina são altamente efetivas no tratamento de olho seco, com ampla reversão do quadro. A ciclosporina é um agente imunodepressor muito empregado após transplantes para evitar fenômenos de rejeição.

Observações bastante recentes também sugerem que um regime alimentar rico em ácidos gordurosos omega-6 e carboidratos teriam um efeito positivo sobre os pacientes com olhos secos, além de maior ingestão de óleo de linhaça.

Dependendo, entretanto, da severidade do quadro, estão indicados uso de colírios lubrificantes, lágrimas artificiais, esteróides tópicos, oclusão parcial ou total dos pontos nasolacrimais. É importante, entretanto, que quaisquer uma destas ou outras alternativas só devam ser conduzidas sob rigoroso controle médico, para que efeitos colaterais indesejáveis não se superponham ao quadro primário.

Também uma boa avaliação clínica deve ser feita, para se detectar uma série de distúrbios sistêmicos como doença tireoidiana, sarcoidose, doenças auto-imunes, onde se destacam a artrite reumatóide, lupus eritematoso sistêmico, tireoidite de Hashimoto, e a Síndrome de Sjögren, com uma incidência de 90% entre os pacientes do sexo feminino e na qual, não apenas ocorre uma diminuição de formação de lágrima, mas também de sudorese e salivação. Nestes casos, o tratamento destas doenças poderá reduzir sensivelmente os sintomas e sinais presentes no quadro de "olho seco".


Há alguns anos, foi lançado no Brasil, o primeiro produto específico para curar "olho seco". Antes de prescrevê-lo, entretanto, é necessário que o oftalmologista tente estabelecer corretamente se há um real déficit da película lacrimal ou se esta é que apresenta algum problema de qualidade em sua composição. Uma outra possibilidade a ser checada antes se refere a uma eventual alteração na película que reveste o segmento anterior ocular.

Mas os diversos trabalhos apresentados em novembro de 2003 durante o Congresso da American Academy of Ophthalmology mostram, de acordo com Dr. Miguel Padilha, resultados altamente satisfatórios. Em sua clínica, inúmeros pacientes já atestam a eficácia desta nova medicação.


Dr. Miguel Padilha
Dr. Miguel Padilha
Membro Titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia